O Monstro Legume do Espaço I e II
Brasil (1995 e 2006)
Direção: Petter Baiestorf
Elenco: Caquinha, O Monstro, Jorjão Timm, Marcelo Severo,
César Coffin Souza
Nunca esqueci aquela manhã de 1995. Eu tinha acabado de
voltar da padaria do bairro e decidi passar no jornaleiro para conferir se a
nova edição da “Rock Brigade” já havia saído. Naqueles anos eu vivia uma
espécie de namoro com a sessão de cartas da revista , a “Headbanger Voice”, e
anotava com avidez todo e qualquer endereço de bandas novas que promoviam suas
(aguardadas) “demo-tapes”.
Entre as polêmicas de “true ou false metal”, quem é ou não
“poser” e textos babando o ovo da mais nova e phoderosa banda saída dos confins
da Noruega, uma espécie de anúncio despertava minha curiosidade no meio de tudo
aquilo: Um maluco que se chamava Petter Baiestorf havia rodado um filme na
distante Palmitos (SC) e usava o espaço da revista metaleira para promover seu
invento.
Na época, eu pensava ser apenas mais uma cartinha, e quem
sabe um VHS, na coleção. Mal sabia o que me aguardava. Junto ao VHS comprado
(via carta camuflada no envelope pardo), vinha encartado o zine “Blerghhh”.Após
o assombro da tal inusitada leitura um grande e desconhecido mundo do cinema
extremo para mim se descortinou.
O tal do Baiestorf, além de se meter a cineasta, entendia
muito sobre um tipo de filme que não ganhava espaço algum nos chamados “canais
oficiais”. No período pré-Internet aquele tipo de informação parecia ouro puro
(essa sensação foi renovada quando outro amigo, quatro anos depois, me
apresentou o também seminal “Cultura Pop” de José Salles, história que fica
para uma outra ocasião).
Ao rodar o filme, surpresa ! Havia sido feito com câmara
comum, daquelas que usávamos para filmar casamentos, aniversários, etc. Já meio
incrédulo, continuava firme assistindo até ver onde ia dar aquilo. A história
iniciava com uma sucessão de externas, mostrando a área rural da cidade, os
personagens seguiam para o interior de uma casa e litros e litros de sangue
falso preenchiam então toda a tela. Uma overdose gore à moda caipira. O
“Monstro Legume do Espaço” possuia uma espécie de máscara de borracha verde e
podia se dizer que a maquiagem não perdia em nada para os filmes da
norte-americana Troma (sua irmã estilística e provável influência).
Diálogos que se aproximavam de manifestos, o personagem
Caquinha e os grandes (em todos os sentidos) Jorjão Timm e Marcelo Severo, além
é claro da atuação impagável do monstro, causaram no meu cérebro um estrago
irreversível e na mente a “necessidade” de entender o quê e por quê daquilo.
Para mim, o que se seguiu daquele dia até hoje, nada mais foi do que um
mergulho nos arquivos dos chamados “filmes B” e o estudo meticuloso de todos os
seus subgêneros (algo que ficaria muito facilitado com o advento da Internet,
as redes P2P e a possibilidade de compra, venda e troca deste tipo de
material).
Hoje fico embevecido
e esperançoso ao perceber que o filme, pioneiro da então estreante Canibal
Filmes, está completando quase 15 anos. “O Monstro Legume do Espaço” não deve
ser visto apenas pela sua qualidade (a originalidade) ou defeito (vários). O
que este filme representa é a bela história da luta da falta de recursos (da
dificuldade logística e publicitária de “vender” uma obra) contra a imaginação,
vontade, criatividade e valentia de quem tem algo a dizer. Uma bordoada na cara
e lição para qualquer tipo de acomodamento.
Um filme de pessoas que nada tinham e tudo fizeram.
(Em 2006 o filme ganhou uma obrigatória continuação. Petter
conta que até do exterior escreviam pedindo a sequência da história).
*****Ótimo
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