quarta-feira, 16 de abril de 2014

O Monstro Legume do Espaço I e II
Brasil (1995 e 2006)
Direção: Petter Baiestorf
Elenco: Caquinha, O Monstro, Jorjão Timm, Marcelo Severo, César Coffin Souza
Nunca esqueci aquela manhã de 1995. Eu tinha acabado de voltar da padaria do bairro e decidi passar no jornaleiro para conferir se a nova edição da “Rock Brigade” já havia saído. Naqueles anos eu vivia uma espécie de namoro com a sessão de cartas da revista , a “Headbanger Voice”, e anotava com avidez todo e qualquer endereço de bandas novas que promoviam suas (aguardadas) “demo-tapes”.
Entre as polêmicas de “true ou false metal”, quem é ou não “poser” e textos babando o ovo da mais nova e phoderosa banda saída dos confins da Noruega, uma espécie de anúncio despertava minha curiosidade no meio de tudo aquilo: Um maluco que se chamava Petter Baiestorf havia rodado um filme na distante Palmitos (SC) e usava o espaço da revista metaleira para promover seu invento.
Na época, eu pensava ser apenas mais uma cartinha, e quem sabe um VHS, na coleção. Mal sabia o que me aguardava. Junto ao VHS comprado (via carta camuflada no envelope pardo), vinha encartado o zine “Blerghhh”.Após o assombro da tal inusitada leitura um grande e desconhecido mundo do cinema extremo para mim se descortinou.
O tal do Baiestorf, além de se meter a cineasta, entendia muito sobre um tipo de filme que não ganhava espaço algum nos chamados “canais oficiais”. No período pré-Internet aquele tipo de informação parecia ouro puro (essa sensação foi renovada quando outro amigo, quatro anos depois, me apresentou o também seminal “Cultura Pop” de José Salles, história que fica para uma outra ocasião).
Ao rodar o filme, surpresa ! Havia sido feito com câmara comum, daquelas que usávamos para filmar casamentos, aniversários, etc. Já meio incrédulo, continuava firme assistindo até ver onde ia dar aquilo. A história iniciava com uma sucessão de externas, mostrando a área rural da cidade, os personagens seguiam para o interior de uma casa e litros e litros de sangue falso preenchiam então toda a tela. Uma overdose gore à moda caipira. O “Monstro Legume do Espaço” possuia uma espécie de máscara de borracha verde e podia se dizer que a maquiagem não perdia em nada para os filmes da norte-americana Troma (sua irmã estilística e provável influência).

Diálogos que se aproximavam de manifestos, o personagem Caquinha e os grandes (em todos os sentidos) Jorjão Timm e Marcelo Severo, além é claro da atuação impagável do monstro, causaram no meu cérebro um estrago irreversível e na mente a “necessidade” de entender o quê e por quê daquilo. Para mim, o que se seguiu daquele dia até hoje, nada mais foi do que um mergulho nos arquivos dos chamados “filmes B” e o estudo meticuloso de todos os seus subgêneros (algo que ficaria muito facilitado com o advento da Internet, as redes P2P e a possibilidade de compra, venda e troca deste tipo de material).
 Hoje fico embevecido e esperançoso ao perceber que o filme, pioneiro da então estreante Canibal Filmes, está completando quase 15 anos. “O Monstro Legume do Espaço” não deve ser visto apenas pela sua qualidade (a originalidade) ou defeito (vários). O que este filme representa é a bela história da luta da falta de recursos (da dificuldade logística e publicitária de “vender” uma obra) contra a imaginação, vontade, criatividade e valentia de quem tem algo a dizer. Uma bordoada na cara e lição para qualquer tipo de acomodamento.
Um filme de pessoas que nada tinham e tudo fizeram.
(Em 2006 o filme ganhou uma obrigatória continuação. Petter conta que até do exterior escreviam pedindo a sequência da história).

*****Ótimo

Nenhum comentário:

Postar um comentário