sexta-feira, 18 de abril de 2014

JCVD
Bélgica (2008)
Direção: Mabrouk El Mechri
Elenco:Jean-Claude Van Damme, François Damiens, Zinedine Soualem, Karim Belkhadra e Jean-François Wolff
Adoro Clint Eastwood, Montgomery Clift, Charles Bronson e Cristopher Walken. Mas não existe ator mais cool que Jean-Claude Van Damme. O baixinho belga é foda. JCVD um dos melhores filmes dos últimos anos, é uma espécie de epitáfio e ao mesmo tempo recomeço de sua carreira.
Tenho assistido a muitos filmes de diversas décadas e gêneros. Nunca encontrei alguém que ao encontrar aquele ponto em que não há mais retorno, decida dinamitar a estrada e voltar para o início de tudo, mesmo que caminhando sobre escombros. Este filme é o “Pet Sounds” do Van Damme. Provavelmente ele nunca fará outro melhor.
Mas afinal do que se trata JCVD ? O filme narra um dia de cão na vida do ator belga. Tudo começa com uma cena de tribunal onde ator e esposa disputam a guarda da filha. O juiz pergunta para a garotinha com qual dos dois ela prefere ficar e a menina nem pisca:
- Com a mamãe ! diz a menina.

O juiz, sádico como todos, decide dar corda para criança e pergunta se ela não gosta do pai. Ela diz que não e que vive sendo humilhada e ridicularizada na escola por causa dos filmes que o pai estrela. O Van Damme, chocado, deixa de ser durão e, pela primeira vez em seus filmes, chora.
Mas como desgraça pouca é bobagem, agora ele precisa pagar os custos do processo que beira a casa dos 300 mil dólares. Ele arrasado vai até um caixa eletrônico e a maquininha informa que está sem saldo nos quatro cartões. Decide ir até o banco de Bruxelas para sacar o dinheiro pessoalmente. Após o seu táxi estacionar, ele é reconhecido e tem que tirar aquelas fotografias com fãs deslumbrados. Esta pequena, porém crucial, demora o faz perder o horário e o banco fecha. O ator então furioso começa a esmurrar a porta da agência e pede ajuda. O vigia diz que não pode fazer nada. O Van Damme então dá uma carteirada e diz que é caso de vida ou morte. Quando finalmente consegue entrar na agência, eis a surpresa... Estava rolando um assalto com reféns amarrados e armas apontadas para funcionários e clientes.
Agora além de perder a filha, mulher e dinheiro ele é também refém de seqüestro. Neste momento filme é dividido em capítulos e as cenas voltam a se repetir: é mostrada a discussão do Van Damme com a taxista, a rotina do rapaz que pediu o autógrafo para o lutador belga e a conversa entre Van Damme e empresário (que tem outra péssima noticia para o azarado ator: o papel que seria dele foi parar nas mãos de Steven Seagal, que aceitou cortar o rabo-de-cavalo para estrelar uma futura super fita de ação).
Nesta hora, o filme retorna para o assalto e o nosso herói está com uma metralhadora apontada para a testa. Novo corte ( é o filme cabeça do Jean-Claude...) e agora ele passa a carreira a limpo: Diz que a parceria com o John Woo , “O Alvo”, se fez de forma errada e que o filme é ruim, relata o perfeccionismo em aprender golpes e movimentos de artes marciais enquanto deveria estar puxando o saco e fazendo lobby em Hollywood, confessa o abuso das drogas , o dinheiro gasto com luxo desmedido e ... revelação bombástica: afirma que seria o maior ator do gênero se tivesse estudado e falasse inglês corretamente. Resumindo: fazer sucesso na Europa, Brasil e Japão não é nada. O que vale é a terra do Tio Sam.
Voltando mais uma vez aos momentos tensos do seqüestro; a tropa de elite chega e resgata os reféns, mas antes disso um grande mal entendido foi causado pela presença do Van Damme na cena do crime. Ele foi considerado parte da quadrilha de gangsters. Escutas telefônicas na casa do seu advogado apontavam o ator implorando por empréstimos e dinheiro. Leram nas entrelinhas...
Como toda obra-prima tem um grande final, este longa não poderia terminar de outra forma. Foram rodados dois encerramentos:
Na cena 1, caminhando lentamente com as mãos na cabeça e sob mira de um revólver , já do lado de fora do cativeiro, ele no momento exato se agacha dá um pulo impossível de grande leão branco e desarma o bandido. Aplausos efusivos da galera lá fora e o belga sendo saudado pela equipe de policiais. O Van Damme é o cara...
Na cena 2, caminhando lentamente com as mãos na cabeça e sob mira de um revólver, já do lado de fora do cativeiro, ele no momento exato não faz nada, já que um atirador de elite abate o bandido. É considerado cúmplice do assalto, tem que ajoelhar na frente da multidão toda, leva um cascudo, é algemado, pisam na sua cabeça e por fim é jogado de qualquer jeito no camburão. O Van Damme já era...
Fica claro que o final real é o segundo. E a explicação é a seguinte: Como o lutador já tem 48 anos, não consegue papéis relevantes no cinema, sua mulher o abandonou e está endividado até as calças. Seria apenas coincidência a presença dele na cena do crime ? Ou era mesmo um assalto ?
Nos últimos segundos uma cena na cadeia com o Van Damme ensinando  golpes paras os presidiários e a presença da filha para conversar, com o pai enclausurado, naqueles telefones que os visitantes usam para falar com quem está preso. A filha perdoa o pai, diz que ele é o melhor do mundo e torce para que seja libertado logo... Novo choro do belga, agora em fase coração-mole...
Quer saber ? Nem o Tarantino faria melhor !
E aquela história de “retroceder nunca, render-se jamais” ? Olha como é legal a grandeza de mudar de opinião. Cool até a medula !

*****Ótimo

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