sábado, 19 de abril de 2014

Cotidiano sufocante e tristeza estilizada no texto de Luiz Ruffato
Eles Eram Muitos Cavalos
Editora Boitempo (2001)
Encontrei algumas vezes o Ruffato pelos corredores do Estadão. Ele andava muito com meu colega de faculdade o Fernando Fernandes. Sempre quietão e monossilábico, mal desconfiava que aquele rapaz de poucas palavras era na verdade um escritor brilhante fato que só me dei conta quando descobri alguns anos atrás o formidável “Eles Eram Muitos Cavalos”.
O livro, curto e grosso vai direto ao ponto desvendando as nuances da alma humana. Miséria e desencanto se chocam com um finíssimo humor negro , onde descrições minuciosas de coisas e pessoas vão dando um toque decadentista e verossímel às histórias.
Inovador na forma e conteúdo, qualquer ato (como uma pessoa fervendo uma caneca de leite ou o escapamento aberto de um motocicleta) vira assunto a ser observado, assinalado e posteriormente falsamente descartado. O “falsamente” é porque uma anotação periférica e aparentemente desimportante revela-se crucial algumas páginas depois. A história se desenrola em 7 de maio de 2000 em São Paulo.
Ruffato é sem sombra de dúvida a maior revelação da literatura brasileira nestes últimos anos. Sua produção mais recente conta com a série Inferno Provisório, projetada em cinco volumes. Já saíram “Mamma, Son Tanto Felice”, “O Mundo Inimigo”, “Vista Parcial da Noite” e “O Livro das Impossibilidades”.

Sonho, corrupção, oportunismos e medo num único livro. Obrigatório.

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