Cotidiano sufocante e tristeza estilizada no texto de Luiz
Ruffato
Eles Eram Muitos Cavalos
Editora Boitempo (2001)
Encontrei algumas vezes o Ruffato pelos corredores do
Estadão. Ele andava muito com meu colega de faculdade o Fernando Fernandes.
Sempre quietão e monossilábico, mal desconfiava que aquele rapaz de poucas
palavras era na verdade um escritor brilhante fato que só me dei conta quando
descobri alguns anos atrás o formidável “Eles Eram Muitos Cavalos”.
O livro, curto e grosso vai direto ao ponto desvendando as
nuances da alma humana. Miséria e desencanto se chocam com um finíssimo humor
negro , onde descrições minuciosas de coisas e pessoas vão dando um toque
decadentista e verossímel às histórias.
Inovador na forma e conteúdo, qualquer ato (como uma pessoa
fervendo uma caneca de leite ou o escapamento aberto de um motocicleta) vira
assunto a ser observado, assinalado e posteriormente falsamente descartado. O
“falsamente” é porque uma anotação periférica e aparentemente desimportante
revela-se crucial algumas páginas depois. A história se desenrola em 7 de maio
de 2000 em São Paulo.
Ruffato é sem sombra de dúvida a maior revelação da
literatura brasileira nestes últimos anos. Sua produção mais recente conta com
a série Inferno Provisório, projetada em cinco volumes. Já saíram “Mamma, Son
Tanto Felice”, “O Mundo Inimigo”, “Vista Parcial da Noite” e “O Livro das
Impossibilidades”.
Sonho, corrupção, oportunismos e medo num único livro.
Obrigatório.
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