Banana Split
Brasil (1988)
Direção: Paulo Sérgio de Almeida
Elenco: Otávio Augusto, Roberto Bomtempo, Tassia Camargo,
Myrian Rios , Marcos Frota e André Felipe di Mauro
Se tem um assunto que parece inesgotável para os cineastas
brasileiros é a Revolução de 1964 (a turma de vermelho prefere a palavra
“golpe”)
Assim, livros, teses,artigos, quadrinhos, músicas, peças
teatrais e é claro filmes foram produzidos numa velocidade e quantidade
impressionante a fim de manter uma espécie de memória viva , uma resistência
que nunca deixa a ferida da história cicatrizar.
Após a chegada dos militares ao poder e a conseqüente
anistia geral ,tivemos eleição direta para presidente. O povo escolheu Fernando
Collor e o Lula teve que se conformar com uma espécie de vice-campeonato. Me
recordo do jogo sujo e das patifarias que marcaram aquela campanha
presidencial. De um lado tínhamos o “publicitário” Fernando Collor caçador de
marajás, todo dia no Jornal Nacional carregando umas pastinhas com “dossiês
fajutos” Do outro lado o velho Lula promovendo greves artificiais e sem
necessidade.Valia tudo para uns minutinhos a mais no noticiário desde que isso
revertesse em alguns votos.
Bem, todos conhecem a história,o Collor venceu e depois foi
(corretamente) deposto.O
que poucos esquecem ou maldosamente preferem não se recordar
é que 90% dos atores da Globo ,do teatro e do cinema apoiaram em peso a
campanha do senhor Luis Inácio. Quando o político alagoano chegou ao poder a
primeira coisa que fez foi extinguir a Embrafilme. Quem em sã consciência
deixaria um aparato daqueles, autêntica máquina de propaganda ideológica,
financiada com verbas federais trabalhar contra seu próprio governo ?
Neste cenário, em 1988, meses antes da eleição, foi
finalizado “Banana Split”. O longa de Paulo Sérgio de Almeida (que havia
anteriormente filmado “Beijo na Boca” sobre armações da classe média) apareceu
como um corpo estranho na filmografia nacional do período.
Ambientado em Petrópolis,em novembro de 1963, o filme começa
( pagando o obrigatório tributo aos patrulheiros) com três jovens sentados num
jardim ouvindo pelo rádio a notícia do assassinato de John Kennedy. Neste
momento um Karmann Ghia conversível e um Simca Chamboard correm em alta
velocidade por uma estrada. Começa a música “Banana Split” dos divinos João
Penca e os Miquinhos Amestrados (a melhor coisa do rock nacional dos anos 1980
ao lado de Leo Jaime e Eduardo Dusek. Mas fica para outra hora...).
Dos carros desembarcam o Marcos Frota, o Bomtempo, a Myrian
Rios e a Danielle Daumerie. Todos vinham de Copacabana para passar o Natal e o
Carnaval em Petrópolis . O Marcos Frota é o líder da turma sempre com óculos
escuros e uma jaquetinha cafajeste o Bomtempo faz a linha drogado quietão. Não
demora eles encontram os três caipiras da praçinha e descobrem que vai rolar um
baile de formatura que marca o encerramento do segundo grau. Comemoração dupla
fim de ano e fim de curso.
Fica um clima meio triste e nostálgico pois a turma irá se
desfazer.Mas o Marcos Frota (filho de um milionário homem de negócios – Walmor
Chagas) não está preocupado com nada disso e só pensa em comer todas as meninas
da festa.
Mira sua atenção na mais gatinha que era irmã de um dos
caipiras (André Felipe). Este, sentindo-se desafiado com a “folga” do Frota,
empurra o playboy e uma briga começa do lado de fora no salão de festas.
Segue-se aqueles clichês na linha “Juventude Transviada” com canivete automático,
meninas de saias rodadas e carros velozes. A Myrian Rios convence o Frota a
deixar a briga para depois. Ao mesmo tempo ela se engraça com o André Felipe e
marca um encontro com o valente. O Frota,como queria confusão recebe umas
anfetaminas do Bomtempo e juntos roubam uma lambreta (uso da droga convertendo
as pessoas em ladrões hehe...). Como eram os tais,invadem um cinema com as
lambretas furtadas e provocam algazarra. Mostram que são mesmo do barulho. Na
trilha mais João Penca...
O André Felipe diz para os amigos que não vai deixar barato
e arma uma forma de roubar a namorada do Frota (a Myrian Rios). Consegue. Um
baile pré-carnavalesco é realizado. Surge aqueles dilemas da juventude: a
primeira transa, a escolha da profissão a saída da casa dos pais e o filme que
se desenhava com comédia quase vira um dramalhão. No rádio o “Repórter Esso”
anuncia o começo da reação militar com a ida do Jango para a China (foi lá
fazer o quê ?) e o início de algumas prisões. O pai do André Felipe (que era
comunista) foge para não ser preso,a Myrian Rios avisa que tem que voltar para
Copacabana ,o Bomtempo se casa, o André decide prestar vestibular para cinema e
seus amigos vão até a lanchonete comer uma banana-split.
Um filme despretensioso e por isso mesmo necessário, que não
levanta bandeiras para retratar o caos político e o cotidiano dos jovens da
época.
Atenção: diversas cenas com a Myrian Rios,de biquíni na
piscina. Isso compensa cada minuto gasto com a fita!!
***Bom
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