quinta-feira, 1 de maio de 2014

A Bolsa

     Dimas nunca havia feito aquilo, mas um fato impossível, anormal e inacreditável mudou seu caráter e, porque não dizer, sua vida. Dimas viu e ouviu uma bolsa falante. Não, nada de muito diferente de todas outras bolsas, mas aquela sacola marrom com zíper lateral e alças compridas falou com ele.
     - Me leve com você! disse o objeto.
     Pelo menos foi o que pensou ter ouvido.
     - Estou facinha. Não me quer ? Repetiu desafiando toda a lógica.
     Surpreso e encantado, Dimas não pensou duas vezes e roubou a bolsa mágica que repousava num banco de praça ao lado da dona, distraída com uma ligação telefônica. A ingenuidade daquela idosa foi uma espécie de batismo. O aprendiz de gatuno estreava no mundo do crime.
     Dimas apertava o passo, protegendo o objeto valioso no peito, quando um grito ecoou vindo de algum lugar da praça:
     - Pega ladrão !
     Isso o Dimas ouviu, e bem, pois no meio de apupos, assovios e gritaria a figura dele em carreira desembestada se destacou no local. Dimas disparou pela rua com a bolsa marrom da velhota.
     Uma, duas, cinco pessoas perseguiram o meliante e já se aproximavam quando o infrator, naquele desespero louco, avistou um menino com uma bicicleta. Um ríspido empurrão derrubou o ciclista atônito... Dimas agora ganhava um veículo para auxiliar sua fuga.
     Pedalava, pedalava e pedalava desenfreadamente a magrela e via a turba pelo espelhinho. A massa enfurecida, a pé, ia ficando para trás , os gritos diminuindo perdendo intensidade.
     - Dois furtos em pouco mais de um minuto. Já sou um profissional ! Pensou.
     Na certeza do sucesso, Dimas não viu o carro cruzar a esquina em altíssima velocidade. Um barulhão, sangue e metal retorcido desenhou no asfalto a cena do acidente.
     Uma pequena multidão agora rodeava Dimas deitado no chão. O larápio, machucado mas consciente, abriu os olhos e se viu cercado por olhos acusadores .
     - Mata ! Esfola ! Lincha ! o povo raivoso queria mais sangue. Um chute foi desferido sem sucesso, muitos beberiam o sangue que tanto queriam se,  por ironia do destino, o veículo que atropelou a Bike do ladrãozinho não fosse um carro de polícia.
     Rapidamente os homens da lei, armas em punho, fatiaram a roda de homicidas com a facilidade de quem corta um bolo. Levantaram o estropiado infrator e o conduziram ao chiqueirinho da viatura.
     - Ainda hoje estarás comigo no 25º DP ! disse um senhor barbudo que dividia espaço com ele no camburão.
     Olhou bem fundo nos olhos do homem, agradeceu mentalmente e jurou nunca mais fazer tamanha bobagem.
    Cansado e ralado ainda arriscou um último olhar pela janela do veículo. Foi quando viu, no ombro da idosa, a bolsa marrom sorrir para ele.