sexta-feira, 18 de abril de 2014

Wattstax
EUA (1973)
Direção: Mel Stuart
Elenco: Richard Pryor, Isaac Hayes, Rufus Thomas, The Emotions, The Bar Kays, Carla Thomas e outros
Organizado pelo selo Stax para promover seu casting , o festival “Wattstax” logo foi apelidado de “Woodstock da música negra”. Em 1973, Miles Davis já tinha soltado o “On The Corner” e James Brown vinha de uma impressionante seqüência de grandes álbuns. Logo, o que os diretores da Stax estavam buscando era uma roupagem nova ao comportado funk-soul que a gravadora vinha desovando naqueles anos e, claro, criar uma identidade com a comunidade negra consumidora dos seus produtos.
A jogada de mestre veio em forma de festival de música para 100 mil pessoas. Incrementado pela força do movimento “black power” californiano, o tom político já pode ser notado no começo do filme-festival com cantos de guerra e afirmação de negritude.
Um trecho de um hino negro é entoado no começo do espetáculo e diz mais ou menos isso:

“Por isso eu vos desafio para levantarem os punhos e gritarem – Eu sou alguém ! Posso ser pobre mas sou alguém ! Posso depender da assistência social, mas sou preto, bonito e orgulhoso ! Que hora é esta ? É a hora da Nação Negra !”
Quase 20 anos antes do Public Enemy, um festival de música ganhava contorno de manifestação política. Entra um discurso (gravado) com a voz do Martin Luther King e a arquibancada responde com gritos e aplausos. Começa uma seqüência de entrevistas com negros na barbearia e num bar. Todos começam a alinhavar suas primeiras impressões a cerca da própria cor e as primeiras manifestações de racismo que sofreram na infância.
Aparece o Jimmy Jones cantando um soul comportado enquanto imagens da Avalon Church of God é mostrada. Corta. Agora estamos no interior da igreja e começa a música.
Sobe uma baladinha gospel em cima de uma base de contrabaixo e percussão vassourinha típicas de grupos de jazz; solo de hammond e as divinas The Emotions (três negras de cabelos black power) rasgam um emocionante e afinadíssimo spiritual jazz capaz de converter até o mais pagão.
Elas emendam com um gospel e vão até o púlpito, enquanto isso os fiéis em transe começam aqueles “Thank You Lord” em clima de transe coletivo. Mas nem tudo são flores. Quebrando o ritmo temos toda hora a participação de um pentelhíssimo Richard Pryor (uma espécie de humorista negro) fazendo uns comentários pra lá de sem graça.

Voltando ao estádio temos mais papo sobre orgulho negro, louvação africana e eis que entram os Staple Singers executando um soul básico e sem novidades. Enquanto a música vai correndo são mostradas cenas de um Papai Noel negro, trapezistas, a faculdade Malcolm X, bandeiras do Zaire e da África do Sul, uns muros pichados e crianças brincando.
Depois deste blábláblá todo surge os ótimos Bar Kays. Viadíssimos, eles ostentam figurino glam, cabelos dourados (um black power gigante meio amarelo capaz de corar o Ivo Meirelles) etc. O frontman tinha mais bijouterias que o Clóvis Bornay em desfile de fantasia. Na parte musical, que é o que importa, uma atuação pra lá de impecável com um funk musculoso e um baterista com tiques de John Bonham. Entra o chato Johnnie Taylor precedido pela correta Carla Thomas (uma bela voz).
Quando chega o velhote Rufus Thomas usando um casaquinho cor-de-rosa já vi que a coisa ia entortar. Chato pacas e com complexo de dono do espetáculo ele já começa dando esporro nos fãs que invadiram o gramado para ouvir a sua música. Depois da lição de moral na platéia, toca mais do mesmo num show forçado demais (cadê a Chaka Khan pra salvar a apresentação ?).
Mas o melhor veio para o final: Um carrão (não identifiquei o modelo) entra pelo gramado, estaciona até a base do palco e do seu interior desce o “Moisés Negro” Isaac Hayes. Com uma capa estilosa, óculos escuros e chapéu, ele executa um número teatral e se comporta como o próprio Messias daquela galera.
Enquanto sobe devagar até o palco sua banda executa o sensacional “Theme From The Shaft” com toda aquela sessão de metais e os contrabaixos nervosos hipnotizando a gente. Quando o Isaac abre a boca para cantar os primeiros versos já estamos grogues com a sonzera...
Um show para olhos e ouvidos ! Ritual orgiástico da verdadeira música das esferas !

****Muito Bom

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