Wattstax
EUA (1973)
Direção:
Mel Stuart
Elenco:
Richard Pryor, Isaac Hayes, Rufus Thomas, The Emotions, The Bar Kays, Carla
Thomas e outros
Organizado pelo selo Stax para promover seu casting , o
festival “Wattstax” logo foi apelidado de “Woodstock da música negra”. Em 1973,
Miles Davis já tinha soltado o “On The Corner” e James Brown vinha de uma
impressionante seqüência de grandes álbuns. Logo, o que os diretores da Stax
estavam buscando era uma roupagem nova ao comportado funk-soul que a gravadora
vinha desovando naqueles anos e, claro, criar uma identidade com a comunidade
negra consumidora dos seus produtos.
A jogada de mestre veio em forma de festival de música para
100 mil pessoas. Incrementado pela força do movimento “black power”
californiano, o tom político já pode ser notado no começo do filme-festival com
cantos de guerra e afirmação de negritude.
Um trecho de um hino negro é entoado no começo do espetáculo
e diz mais ou menos isso:
“Por isso eu vos desafio para levantarem os punhos e
gritarem – Eu sou alguém ! Posso ser pobre mas sou alguém ! Posso depender da
assistência social, mas sou preto, bonito e orgulhoso ! Que hora é esta ? É a
hora da Nação Negra !”
Quase 20 anos antes do Public Enemy, um festival de música
ganhava contorno de manifestação política. Entra um discurso (gravado) com a
voz do Martin Luther King e a arquibancada responde com gritos e aplausos.
Começa uma seqüência de entrevistas com negros na barbearia e num bar. Todos
começam a alinhavar suas primeiras impressões a cerca da própria cor e as
primeiras manifestações de racismo que sofreram na infância.
Aparece o Jimmy Jones cantando um soul comportado enquanto
imagens da Avalon Church of God é mostrada. Corta. Agora estamos no interior da
igreja e começa a música.
Sobe uma baladinha gospel em cima de uma base de contrabaixo
e percussão vassourinha típicas de grupos de jazz; solo de hammond e as divinas
The Emotions (três negras de cabelos black power) rasgam um emocionante e
afinadíssimo spiritual jazz capaz de converter até o mais pagão.
Elas emendam com um gospel e vão até o púlpito, enquanto
isso os fiéis em transe começam aqueles “Thank You Lord” em clima de transe
coletivo. Mas nem tudo são flores. Quebrando o ritmo temos toda hora a
participação de um pentelhíssimo Richard Pryor (uma espécie de humorista negro)
fazendo uns comentários pra lá de sem graça.
Voltando ao estádio temos mais papo sobre orgulho negro,
louvação africana e eis que entram os Staple Singers executando um soul básico
e sem novidades. Enquanto a música vai correndo são mostradas cenas de um Papai
Noel negro, trapezistas, a faculdade Malcolm X, bandeiras do Zaire e da África
do Sul, uns muros pichados e crianças brincando.
Depois deste blábláblá todo surge os ótimos Bar Kays.
Viadíssimos, eles ostentam figurino glam, cabelos dourados (um black power
gigante meio amarelo capaz de corar o Ivo Meirelles) etc. O frontman tinha mais
bijouterias que o Clóvis Bornay em desfile de fantasia. Na parte musical, que é
o que importa, uma atuação pra lá de impecável com um funk musculoso e um
baterista com tiques de John Bonham. Entra o chato Johnnie Taylor precedido
pela correta Carla Thomas (uma bela voz).
Quando chega o velhote Rufus Thomas usando um casaquinho
cor-de-rosa já vi que a coisa ia entortar. Chato pacas e com complexo de dono
do espetáculo ele já começa dando esporro nos fãs que invadiram o gramado para
ouvir a sua música. Depois da lição de moral na platéia, toca mais do mesmo num
show forçado demais (cadê a Chaka Khan pra salvar a apresentação ?).
Mas o melhor veio para o final: Um carrão (não identifiquei
o modelo) entra pelo gramado, estaciona até a base do palco e do seu interior
desce o “Moisés Negro” Isaac Hayes. Com uma capa estilosa, óculos escuros e
chapéu, ele executa um número teatral e se comporta como o próprio Messias
daquela galera.
Enquanto sobe devagar até o palco sua banda executa o
sensacional “Theme From The Shaft” com toda aquela sessão de metais e os
contrabaixos nervosos hipnotizando a gente. Quando o Isaac abre a boca para
cantar os primeiros versos já estamos grogues com a sonzera...
Um show para olhos e ouvidos ! Ritual orgiástico da
verdadeira música das esferas !
****Muito Bom
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