domingo, 13 de abril de 2014

Kill Bill volumes 1 e 2
EUA (2003) e (2004)
Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Uma Thurman (A Noiva), David Carradine (Bill), Lucy Liu (O-Ren), Daryl Hannah (Elle), Vivica Fox (Vernita), Michael Madsen (Budd), Sonny Chiba (Hattori) e Chia Hui Liu (Pai Mei)
 Esqueça cabecismos e pós-modernismos; Kill Bill é um filme de artes marciais. Um belo e bem filmado filme de kung-fu. Só isso.
     Mas o “só” no caso de Quentin Tarantino é um saco enorme de referências que vão se encaixando num quebra-cabeças interminável e que vai ganhando sentidos diversos diante do grau de conhecimento que o telespectador tem sobre cultura pop e história do cinema.
      Sim, pois não existe em “Kill Bill” uma única cena, um único frame que não remeta ou dialogue com alguma coisa. As citações dariam uma tese universitária. Só para ilustrar as mais óbvias (ou as que eu me recordo no momento...) estão: o macacão amarelo e preto e a motocicleta da Uma Thurman fazendo citação ao “Jogo da Morte” de Bruce Lee, o tapa olho da Daryl Hannah linkando a Christina Lindberg de “Thriller”, o Sonny Chiba vendendo espadas de samurais numa auto-citação (já que é uma lenda nos filmes deste estilo) , o impagável Chia Hui Liu decalcando todos os principais vilões e mestres do kung-fu numa única pessoa, a mão espalmada da Uma que após ser enterrada viva consegue sair da cova em que foi jogada no  melhor estilo “Evil Dead” …

 Para não ficar dando show de pernosticismo paro por aqui mas confesso que pesquei umas duas dezenas de outras “citações”. O Baudrillard deve ter gargalhado ao ver na prática o seu “sistema dos objetos” sendo executado em forma de filme.
- Tá legal e daí ? Você deve estar se perguntando… O que isso interfere no filme ?
- A princípio a resposta é nada; num segundo momento pode se chegar a conclusão de que tudo muda e ainda existe a tese de que os filmes do Tarantino não são filmes, são uma espécie de anti-cinema exatamente a serviço de uma desconstrução que alguns acreditam ser uma paixão desenfreada pela história do cinema. Ou seria uma mitomania modificadora ? Um ímpeto restaurador ?

Mas voltando ao primeiro parágrafo e deixando os tais cabecismos de lado, “Kill Bill” é uma história de vingança onde a Uma Thurman decide abandonar uma gangue de assassinos de aluguel e é executada grávida no dia de seu casamento.
Ela escapa da morte por um triz, fica em coma por 4 anos, se recupera, empreende fuga espetacular pelo estacionamento do hospital e ressurge numa Tóquio século 21 com desenvoltura de samurai e fúria de vingadora.
Invade o QG da Lucy Liu e , depois de executar no melhor estilo Ronin uns 80 japas fortemente armados (ela decepa os coitados como um sushiman corta aqueles pedacinhos de peixe) , trava a derradeira batalha com a chefona e ex-pantera.
Depois do banho de sangue, ocorrido a pouco, temos o tão esperado combate e então… eis que entra a canção “Don't Let Me Be Misunderstood” do ótimo e improvável Santa Esmeralda desconcertando tudo e dando um outro clima à carnificina. Reza a lenda que o Tarantino encaixou a cena na música e não o contrário...

Depois que a Lucy vai pro saco, a Uma parte em busca da Daryl e arranca-lhe o único olho bom, manda o irmão do Bill para o colo do capeta e se prepara para o combate final com o veteraníssimo e cobra criada David Carradine.
Quando todo mundo está torcendo para que a Uma decepe logo o traíra eis que o malandrão mostra, para uma emocionada Uma Thurman (a esta altura em lágrimas), que a criança que ela trazia na barriga, no dia da tentativa de assassinato, sobreviveu e estava sendo criada por ele. A menina já chega abraçando e elogiando a mãe e aplaca a fúria vingativa da loira.
Não conto o final mas duvido que após quase 7 anos você não saiba.

Muita cena de pezinhos descalços para os fetichistas e trilha sonora juntando num único filme Zamfir, Santa Esmeralda, Nancy Sinatra e Neu!

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