O Inevitável
Não havia ninguém naquela cidade mais feliz que o Felício. Nem mais completo. Felício era tão perfeito, mas tão perfeito, que despertava nas pessoas um misto de admiração e raiva.
Pudera, como passar incógnito um homem de um metro e oitenta, peitoral definido, cabelos fartos e brilhantes, braços de lenhador, sorriso colgate e para a perdição das meninas de família: um furinho no queixo. Que aliás,era quadrado e eqüino.
Esse Adônis em carne-e-osso aliava tudo isso com uma incrível habilidade manual e intelectual a ponto de seus amigos o apelidarem de “canivete suíço” , “homem google” e outras definições aqui impublicáveis.
Um dia Felício conheceu Amélia. Eram tão jovens e bonitos e estavam tão próximos que seria injusto se não se encontrassem.
Demorou apenas dez dias e a forma não poderia ser mais emblemática: um blecaute durante a comemoração de um aniversário na faculdade. Foi ali, no meio dos apupos e da escuridão que notaram as qualidades daquele rapaz, que afastou alguns alunos da caixa de força e com um molho de chaves desprendeu um fusível, encaixou outro e, num lance de pura divindade, devolveu a luz que possibilitou o prosseguimento do festejo.
Amélia avistou, no meio dos tapinhas e aplausos, o homem de sua vida.
Casaram e foram felizes. Nessa vida domética o marido ia mostrando seus predicados. Tudo que quebrava o Felício consertava, se havia uma festa o Felício era o mais elegante, se alguma dúvida surgia logo o super Felício não demorava em elucidar. A personalidade daquele homem perfeito foi de tal maneira se agigantando que Amélia começou a se sentir infeliz. Buscava maneiras de irritá-lo, desafia-lo, provocar ciúmes... Nada. Com a segurança dos fortes, Felício sobrepujava todas as maquinações da Amélia.
Várias vezes ela pensava no seu pássado de moça bonita. Havia sido rainha da festa da uva em sua cidade natal, miss estadual e garota-propaganda de marca de batom, de certa forma sentira o brilho do sucesso, agora tinha que se contentar em viver ao lado de um homem sem defeitos.
Mas o destino prega suas peças. Certo dia, recebendo convidados em sua casa, Felício teve que fazer um cafezinho e para surpresa de todos o café saiu ruim.
- Ô Felício, isso mais parece um chafé ! tripudiou um dos convidados.
Sem perder a linha ele foi até a cozinha e fez outro café que saiu ainda pior. Vendo pela primeira vez o pânico do marido infalível Amélia contornou a situação e fez não apenas um café, mas o café mais bem feito e delicioso que Felício já provara em toda sua vida.
Essa pequena derrota do marido deu ânimo ao casamento deles, Felício humildemente reconheceu o talento gastronômico da Amélia o que de certa forma também foi outro fardo para a ela.
Viciado naquela gostosura, que só a esposa era capaz de fazer, ele começou a exigir a todo momento a bendita bebida.
Talvez a dependência do Felício pelo cafezinho amoleceu e ofuscou um pouco o seu brilho uma vez que Amélia passou a vê-lo de forma menos glamourosa.
Um dia, logo cedinho, Amélia avisou o marido que iria até o mercado comprar café. Não voltou mais.
Dias, semanas e meses se passaram e nenhuma notícia. Felício recorreu a sogra, parentes, polícia e detetives mas ninguém foi capaz de descobrir algo sobre o misterioso sumiço da companheira.
Chateado, preocupado e infeliz, Felício virou um ermitão. Não saia do apartamento para nada e sua vida e beleza foram definhando. Nas raríssimas visitas que recebia logo alguém punha tudo a perder quando falavam as palavras proibidas: Amélia, sumiço,cafezinho... Era demais para ele.
Três anos se passaram quando um dia a campainha tocou. Era Amélia, ainda jovem, elegante e mais bonita do que antes. Impávido, sem esboçar um mínimo de surpresa ele a olhou dos pés a cabeça e ao notar que não carregava nada perguntou:
- Amor, não comprou o café ?
Pudera, como passar incógnito um homem de um metro e oitenta, peitoral definido, cabelos fartos e brilhantes, braços de lenhador, sorriso colgate e para a perdição das meninas de família: um furinho no queixo. Que aliás,era quadrado e eqüino.
Esse Adônis em carne-e-osso aliava tudo isso com uma incrível habilidade manual e intelectual a ponto de seus amigos o apelidarem de “canivete suíço” , “homem google” e outras definições aqui impublicáveis.
Um dia Felício conheceu Amélia. Eram tão jovens e bonitos e estavam tão próximos que seria injusto se não se encontrassem.
Demorou apenas dez dias e a forma não poderia ser mais emblemática: um blecaute durante a comemoração de um aniversário na faculdade. Foi ali, no meio dos apupos e da escuridão que notaram as qualidades daquele rapaz, que afastou alguns alunos da caixa de força e com um molho de chaves desprendeu um fusível, encaixou outro e, num lance de pura divindade, devolveu a luz que possibilitou o prosseguimento do festejo.
Amélia avistou, no meio dos tapinhas e aplausos, o homem de sua vida.
Casaram e foram felizes. Nessa vida domética o marido ia mostrando seus predicados. Tudo que quebrava o Felício consertava, se havia uma festa o Felício era o mais elegante, se alguma dúvida surgia logo o super Felício não demorava em elucidar. A personalidade daquele homem perfeito foi de tal maneira se agigantando que Amélia começou a se sentir infeliz. Buscava maneiras de irritá-lo, desafia-lo, provocar ciúmes... Nada. Com a segurança dos fortes, Felício sobrepujava todas as maquinações da Amélia.
Várias vezes ela pensava no seu pássado de moça bonita. Havia sido rainha da festa da uva em sua cidade natal, miss estadual e garota-propaganda de marca de batom, de certa forma sentira o brilho do sucesso, agora tinha que se contentar em viver ao lado de um homem sem defeitos.
Mas o destino prega suas peças. Certo dia, recebendo convidados em sua casa, Felício teve que fazer um cafezinho e para surpresa de todos o café saiu ruim.
- Ô Felício, isso mais parece um chafé ! tripudiou um dos convidados.
Sem perder a linha ele foi até a cozinha e fez outro café que saiu ainda pior. Vendo pela primeira vez o pânico do marido infalível Amélia contornou a situação e fez não apenas um café, mas o café mais bem feito e delicioso que Felício já provara em toda sua vida.
Essa pequena derrota do marido deu ânimo ao casamento deles, Felício humildemente reconheceu o talento gastronômico da Amélia o que de certa forma também foi outro fardo para a ela.
Viciado naquela gostosura, que só a esposa era capaz de fazer, ele começou a exigir a todo momento a bendita bebida.
Talvez a dependência do Felício pelo cafezinho amoleceu e ofuscou um pouco o seu brilho uma vez que Amélia passou a vê-lo de forma menos glamourosa.
Um dia, logo cedinho, Amélia avisou o marido que iria até o mercado comprar café. Não voltou mais.
Dias, semanas e meses se passaram e nenhuma notícia. Felício recorreu a sogra, parentes, polícia e detetives mas ninguém foi capaz de descobrir algo sobre o misterioso sumiço da companheira.
Chateado, preocupado e infeliz, Felício virou um ermitão. Não saia do apartamento para nada e sua vida e beleza foram definhando. Nas raríssimas visitas que recebia logo alguém punha tudo a perder quando falavam as palavras proibidas: Amélia, sumiço,cafezinho... Era demais para ele.
Três anos se passaram quando um dia a campainha tocou. Era Amélia, ainda jovem, elegante e mais bonita do que antes. Impávido, sem esboçar um mínimo de surpresa ele a olhou dos pés a cabeça e ao notar que não carregava nada perguntou:
- Amor, não comprou o café ?
Alexandre Pereira
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