O estranho caso da rua que sumiu
Dirige o carro. Paisagem desértica de fim de tarde. Estaciona. Fica no carro. Termina de ouvir a música. Desce. Percebe que anoitece. Caminha por calçadas. Observa casas e apartamentos iluminados. Estranha o fato de todos estarem com portas abertas. Olha para os lados. Certifica-se de que está só. Invade uma casa. Passeia pelos cômodos. Invade outra. Faz o mesmo com dezenas delas. Encontra guloseimas, discos, roupas. Tudo pode ser seu. Não toca em nada. Percorre algumas quadras. Decide continuar explorando os imóveis. Eles vão ficando mais pobres, feios e escuros. Vê algo morto. Não consegue decifrar o que é. Um despacho ? Uma oferenda ? Parece um animal. Não tem certeza. Sente cheiro de algo podre. Suas narinas ardem, sua cabeça gira. Parece que vai vomitar. Pressente maldade e perigo no ar. Sai correndo. Procura o carro. Encontra, mas ele está estacionado em outra rua. Não lembra de tê-lo deixado lá. Respira fundo. Organiza os pensamentos. Acha muito estranho tudo aquilo. Retorna à casa onde pensa ter visto um bicho morto. Procura. Não consegue encontra-la. Olha novamente para o imóvel. O lugar é aquele mesmo. Nada. Refaz lentamente todo o trajeto inicial. Revê as casas com portas e janelas abertas. Continuam iluminadas e vazias. Procura o carro. Não encontra. Procura de novo. Surpreso e febril constata:
- A rua sumiu !
- A rua sumiu !
Alexandre Pereira
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