quinta-feira, 23 de julho de 2015

Amor de Perdição

6:50 – Na calçada com as amigas, espera o portão da escola abrir mas poderia ficar o dia todo naquela rodinha onde é o centro das atenções. Gargalha, mexe no cabelo, grita e masca chiclete.
7:00 – Entra na escola de braço dado com a amiga.
7:15 - A aula já começou mas ela ainda está no banheiro penteando o cabelo e conversando com meninas de outras classes.
7:20 – Entra, não cumprimenta ninguém, não abre o caderno, ignora o professor e dá as costas para a lousa. Ela quer é contar para as amigas como foi o seu fim de semana. Pela empolgação parece que foi incrível.
8:00 – Impaciente pede para ir ao banheiro. O professor deixa.
8:15 – Começa a trocar textos e fotos pelo celular. O professor a repreende mas ela parece não se importar.
8:30 – Ainda faltam 30 minutos para o intervalo. Ela não vai aguentar e pede para ir ao banheiro. O professor argumenta que ela já foi. Mas ela insiste. O professor deixa. Antes de sair tira um selfie.
8:40 – Ela volta eufórica, retoma a conversa com as amigas, o professor só consegue entender parte da história: “ele”, gato” e “boné azul”.
9:00 –Intervalo. Parte em disparada para o pátio onde duas amigas a esperam. Uma rodinha, a mesma que havia se formado do lado de fora do portão, se forma. Todas olham para um carinha que parece ignorar a presença delas.
9:10 – Os alunos comemoram e aplaudem. O “gato de boné azul” está dando um beijo cinematográfico em uma menina. Mas não é a nossa hiperativa garota descrita aí acima.
9:30 – Fim do intervalo. Os alunos voltam para a sala a menina não. 
9:40 – Entra atrasada e com olhos vermelhos, parece ter chorado. Senta em outra carteira que não a sua e é abraçada por uma aluna que passa a mão na cabeça dela. O professor pergunta o que aconteceu, elas falam que “não é nada não”.
9:50 – O professor está esgotando a matéria e percebe que a jovem está pálida, uma expressão mortificada no rosto.
9:51 – A moça desmaia. 
9:52 – Ela acorda e a amiga diz que a levará para a diretoria. Parece que ela não tomou café pela manhã e o não lanchou no intervalo, afinal só tinha atenção para o “gato de boné azul”.
10:15 – Retorna um pouco mais animada, mas meio sonolenta devido algum medicamento. Abre o caderno, olha para a lousa mas não copia nada.
10:30 – Tira o celular do bolso e começa uma troca insana de mensagens com alguém não identificado.
10:40 – Pede para ir ao banheiro. Nessa altura do campeonato o professor já entregou os pontos e decide que a aluna pode fazer o que quiser. Se decidir plantar bananeira no centro da classe cantando “O Show das Poderosas” o professor deixa.
11:00 – Não para de olhar para o celular, mas desta vez acompanha com impaciência o passar lento dos minutos.
11:30 – Volta a trocar mensagens pelo celular.
12:00 – Começa a sorrir e parece mais animada.
12:15 – Pede para ir ao banheiro. O professor deixa.
12:20 – Fim do expediente. Ela parte em disparada para a calçada, o mesmo lugar em que estava às 6:50.
12:25 – O professor manobra o carro próximo dela. Observa uma rodinha onde ela é o centro das atenções. Gargalha, mexe no cabelo, grita e masca chiclete. Parece muito feliz.
Hoje a aluna foi à escola e não aprendeu nenhum tema novo nem avançou em conteúdo algum. Mas em matéria de inteligência emocional brilhou como ninguém. Nota dez para ela seria pouco.

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